sábado, 9 de outubro de 2010

O PÁSSARO DA ALMA

O Pássaro da Alma

No fundo, bem lá no fundo do corpo, mora a alma
Ainda não houve quem a visse,
Mas todos sabem que ela existe.

E não só sabem que existe,
Como também sabem o que lá tem dentro.
Dentro da alma,
Lá bem no centro,
Pousado numa pata
Está um pássaro.
E o nome do pássaro é pássaro da alma
E ele sente tudo o que nós sentimos:
Quando alguém nos magoa
O pássaro da alma agita-se para lá e para cá
Em todos os sentidos dentro do nosso corpo
Sofre muito.
.
Quando alguém nos ama,
O pássaro da alma dá pulinhos
De contente,
Para trás e para a frente,
Vai e vem.
.
Quando alguém nos chama,
O pássaro da alma põe-se logo à escuta da voz,
A fim de reconhecer que tipo de apelo é.
Quando alguém se zanga connosco,
O pássaro da alma recolhe-se dentro de si
Tristonho e silencioso.
.
E quando alguém nos abraça, o pássaro da alma
Que mora no fundo, bem lá no fundo do nosso corpo
Começa a crescer a crescer,
Até encher quase todo o espaço dentro de nós
Tão bom é para ele o abraço.
.
Dentro do corpo, no fundo, bem lá no fundo, mora a alma.
Ainda não houve quem a visse,
Mas todos sabem que ela existe.
E ainda nunca,
Nunca veio ao mundo alguém
Que não tivesse alma.
Porque a alma entra dentro de nós no momento em que nascemos
E não nos larga
- Nem uma só vez –
Até ao fim da vida.
Como o ar que o homem respira
Desde a hora em que nasce
Até à hora em que morre.
Decerto querem também saber de que é feito o pássaro da alma
Ah, isso é mesmo muito fácil:
É feito de gavetas e mais gavetas.
Mas não podemos abrir as gavetas de qualquer maneira,
Pois cada uma delas tem uma chave para ela só!
E o pássaro da alma
É o único capaz de abrir as gavetas dele.
Como?

Pois isso também é muito simples:
Com a segunda pata.
.
O pássaro da alma está pousado numa pata,
E com a outra – que em descanso está dobrada sob a barriga
Roda a chave da gaveta que quer abrir,
Puxa pelo puxador, e tudo que está dentro dela
Sai em liberdade para dentro do corpo.
.
E como tudo o que sentimos tem uma gaveta,
O pássaro da alma tem imensas gavetas:
A gaveta da alegria e a gaveta da tristeza
A gaveta da inveja e a gaveta da esperança
A gaveta da desilusão e a gaveta do desespero
A gaveta da paciência e a gaveta do desassossego
E mais a gaveta do ódio, a gaveta da cólera e a gaveta do mimo.
A gaveta da preguiça e a gaveta do vazio.
A gaveta dos segredos mais escondidos,
Uma gaveta que quase nunca abrimos.
E há mais gavetas
Vocês podem juntar todas as que quiserem.
.
Às vezes uma pessoa pode escolher e indicar ao pássaro
As chaves a rodar e as gavetas a abrir.
E outras vezes é o pássaro quem decide
Por exemplo: a pessoa quer estar calada e diz ao pássaro
Para abrir a gaveta do silêncio.
Mas ele, por auto recriação
Abre-lhe a gaveta da fala,
E ela desata a falar, a falar sem querer.
Outro exemplo: a pessoa quer escutar pacientemente
- E em vez disso ele abre-lhe a gaveta do desassossego
Que faz com que ela se enerve.
.
E acontece que a pessoa tenha ciúmes sem qualquer motivo.

E que estrague justamente quando mais quer ajudar.
Porque o pássaro da alma nem sempre é disciplinado
E as vezes dá-lhe trabalhos …
-
Agora já compreendemos que cada homem é diferente do seu semelhante
Por causa do pássaro da alma que tem dentro de si.
O pássaro que em certas manhãs abre a gaveta da alegria,
E a alegria jorra dela para dentro do corpo
E o dono dele fica feliz.
.
E quando o pássaro lhe abre
A gaveta da raiva,
A raiva escorre de dentro dela e
Domina-o totalmente.
E até que o pássaro
Volte a fechar a gaveta
Ele não pára
De se zangar.
.
E quando o pássaro está de mau humor
Abre gavetas que dão mal-estar.
E quando o pássaro está de bom humor
Escolhe gavetas que fazem bem.
.
E o mais importante - é escutar logo o pássaro
Pois acontece o pássaro da alma chamar por nós, e nós não o ouvirmos
É pena. Ele quer falar-nos de nós próprios.
Quer falar-nos dos sentimentos que estão encerrados nas gavetas
Dentro de nós.
.
Há quem o ouça muitas vezes
Há quem o ouça raras vezes,
E há quem o ouça
Uma única vez na vida.
.
Por isso vale a pena
Talvez tarde, pela noite, quando o silêncio que nos rodeia,
Escutar o pássaro da alma que mora dentro de nós,
No fundo, lá bem no fundo do corpo.”
.

3 comentários:

  1. Olá Xinha, ADORO este livro...acho que a Mafalda já ouviu esta história algumas 100 vezes...LOL

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  2. Olá Teresa!
    Eu também gosto imenso mas tive uma ideia brilhante para a contar/ler aos meus alunos. Vai ser um must! Depois conto-lhe.
    Beijinhosssssssssssss

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  3. Adoro este livro Xinha, é simplesmente MARAVILHOSO.
    Bjs Diana

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