domingo, 2 de agosto de 2009

PASSOS PERDIDOS PASSOS ENCONTRADOS







Fui almoçar com o Frederico e a minha mana Teresa ao restaurante da Assembleia da Republica, que dá para o jardim lateral, um espaço digno do Palácio de S.Bento, com porcelanas e talheres com o AR (Assembleia da Republica) em letras desenhadas gravadas, e onde só podem entrar convidados. Depois de um maravilhoso almoço, acedemos ao palácio pelo interior e percorremos corredores, escadarias, salas, salões, claustros, jardins e as memórias vieram até mim através de cada passo que dava, de cada cheiro que sentia, de cada recanto que via. Desde que me lembro de existir que o meu pai, o melhor Pai do Mundo e das melhores pessoas que já existiram (não sou eu que digo...toda a gente sabe), fazia parte daquelas pedras, daquelas estátuas, daquelas pinturas, daqueles livros...o meu pai partilhava a sua vida entre a família, a minha mãe, seu amor, nós os oito filhos e a nossa casa no Restelo e o Palácio de S.Bento. Quando eu era mais pequena pensava que o meu pai era um rei e quando fui crescendo percebi que ele era realmente um rei. O meu pai era admiravel, inteligente, sensivel, sonhador, com uma enorme visão de futuro, visivelmente descendente dos bravos descobridores e navegadores portugueses e foi por isso que sempre esteve à frente da Assembleia da Republica, independentemente do regime politico e do governo. A hora habitual de chegada a casa era sempre depois das 21h (21h 21h30), hora a que jantavamos e ainda tinha tempo e disposição para nós todos. Nunca se deitava antes da 1h ou 2h da manhã ou mais tarde e, depois do serão em família, depois de nos deitarmos, ainda ficava no escritório onde dava uma leitura pelos jornais diários e concluia trabalho que trazia com ele todos os dias apesar dos "protestos" justificados da minha mãe.

Estivemos no Plenário e estive no lugar do meu pai, o lugar que foi do meu pai dia após dia, durante anos e anos e anos. Passei a mão ao de leve na madeira da mesa numa caricia para ele.
Quantas vezes eu percorri aqueles corredores imensos para ir ter com o meu pai, com 13, 14, 15 anos, depois das aulas no Instituto Britânico, à espera de uma "boleia" para casa...quantas vezes fiquei horas à espera enfiada num sofá no seu gabinete, enquanto docemente me dizia...
"Só mais um bocadinho..."
Olhei para o fundo do corredor, olhei para as mesas à porta dos gabinetes com os respectivos funcionários fardados e acreditei que se entrasse no imenso gabinete do meu pai o iria encontrar sentado à secretária e que me iria receber com aquele seu sorriso...
...por momentos acreditei.

5 comentários:

  1. Olá Xinha, que lindo post este!
    Também eu tenho uma grande admiração pelo meu pai, é o meu herói e será sempre o meu exemplo. Infelizemente nem todos os filhos podem dizer isso dos pais!
    Beijinhos
    Sara

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  2. Para nós o passado é tão presente, não é? Quando penso nisso entendo porque é que a minha mãe, velhinha com 96 anos, e já tão perto do fim do camoinho, ainda falava do passado como se fosse presente. Era a sua realidade, era a sua vida!
    Mas o passado não volta, e dele fica apenas saudade e uma marca indelével no nosso SER. Por isso é muito bom voltar aos passos perdidos e encontrá-los de novo. Reanima a nossa vida, dá-nos um novo fôlego. Respira-o bem Xinha, que a caminhada ainda pode ser longa...
    Respira bem, para que seja sempre uma excelente caminhada!
    Bjs
    Luz

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  3. Olá Xinha,

    Que bom que é sair de casa e, em boa companhia, passar momentos descontraídos e cheios de boas recordações...

    Eu já sabia que eras da "realeza", pois isso é óbvio, mas não sabia que tinhas tido um pai tão importante!
    Que bom que deve ter sido essa experiência, sabes que é como diz aquela frase: "aqueles que passam por nós, não nos deixam sós, nem seguem o seu caminho sós... deixam um pouco de si, levam um pouco de nós". É por isso que tu és como és!

    Cada vez me surpreendo mais com o que vou conhecendo no príncipes e princesas... vês como o blogue é uma ferramenta de comunicação maravilhosa? Ainda bem que aderiste e fizeste este óptimo trabalho!

    Não queres vir até cá cima, ao norte, passar uns dias de férias??? Gostava de te conhecer pessoalmente e de te mostrar estas "bandas", que também têm coisas lindas... embora não tão "importantes"...

    Aproveita estes dias para fazeres mais, muitas mais coisas boas como esta e encher a alma e o coração de força renovada para continuar em frente...

    Beijinhos, Juca

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  4. Sabes Juca o meu pai era uma pessoa extraordinária e eu sempre fui tratada como uma princesinha, daí fazer o mesmo aos meus meninos.
    A educação que nós tivemos foi essencialmente baseada no valor da família,o amor ao próximo, a solidariedade, a justiça e a valorização de cada ser por aquilo que é e não por aquilo que tem.
    Tudo isto nos foi transmitido não por palavras mas por atitudes e, como tu sabes tão bem, as crianças aprendem aquilo que vivem e toda a minha educação e formação devo aos meus pais e é a minha grande herança.

    Gostava muito de te conhecer e sei que isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde...

    Beijinhos da Xinha

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  5. Sara
    Felizes de nós que tivemos estes pais...
    Felizes dos nossos filhos que nos têm a nós...
    Fico mesmo muito triste por conhecer os pais de alguns príncipes e princesas que já tive e que não tiveram a nossa sorte, e simplesmente não poder fazer nada...

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